Minha história com Caio Fernando Abreu começou do jeito mais ingênuo e banal possível. Ouvi meu então primeiro amor - que tempos depois a gente descobre que nem era tão amor assim - me olhar com espanto por eu não ter lido nada que ele havia escrito. Resolvi, então, experimentá-lo e ganhei um vício, logo compartilhado com amigos e devidamente estimulado por breves perfis ou livros tocantes como o que compila cartas do escritor gaúcho trocadas com amigos. Não passou muito tempo, me vi trabalhando na mesma redação em que Caio frequentou durante vários anos de sua breve vida, de onde, na surdina, consegui mergulhar em pastas de arquivo que reuniam textos dele e sobre ele.
Já se vão quase dez anos de amor e admiração pela figura de Caio e me perguntei o que faria com isso. Um livro? Quem da geração dele, ao ver um rapaz de vinte e poucos anos, se daria ao trabalho de falar sobre? Que direito teria eu de mergulhar intensamente numa vida e num tempo que não vivi? Não, não era a hora de escrever um livro. Um documentário? Paula Dip, amiga querida dele, se apressou em fazê-lo e deve lançá-lo em breve. Uma peça? Muito complicado. Resolvi então, após um encontro furtivo, escrever sobre ele aqui, num blog, sem compromisso, as histórias que cruzam a vida dele com a minha e a de várias outras pessoas.
A motivação tem nome e sobrenome: Claudia Wonder. Ao subir num ônibus, dia desses, lá estava ela, altiva, óculos lhe conferindo ar intelectual, mulher inteligente e misteriosa. Havia um lugar ao lado dela, que tratei de ocupar. Sem vergonha que sou, me apresentei e conversamos brevemente, inclusive sobre Caio. Marcamos um novo encontro, que, espero, acontecerá em breve. Ao descer do transporte público, pensei por que não contar essas histórias? Somar a minha com a de outros, por meio de entrevistas e encontros fortuitos?
Assim nasce esse espaço. Que ele esteja impregnado de boas visitas. E boas leituras.